Jonas Furtado
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Textos
anos noventa - quem aguenta
cidadezinha filha da fruta
que comem teus filhos
nos tempos poetas te exaltam
mas agora só te podem esculachar

não te reconheço, pródiga
já que és centenária adolescente

não direi dos encantos que escorrem pelos cantos
teu semblante agora me deixa assombrado

não quero rimar, filha da luta,
teus rios com tuas lendas

não quero, filha enxuta,
caboclos poetar com baixios

nem quero cadenciar teus sentidos
amarelados pela pretensa ilusão de tua honra -
quimeras... merda!

és panema...? estás anêmica...
tua cara fede - paraíso de urubus
em teu ventre em plena noite errada
latejam vermes, derramando tintos
tintos que desgraçam tua aurora

cidadezinha, filha da natura, bruta
tua idade, já falei, ainda nem é média
mas faz média social

teus filhos loucos pedem fogo em protestos
uma história tua, crua se enreda
hipócrita... e (em) minha escrita se perde

não quero ouvir nada de altaneiro - berreiro
não quero ver o que não se tem - também
não quero a maravilha sem motivo -
não vivo de berro e para tua cabeça não digo amém

acorda que quero teu recomeço feliz
cidadezinha filha da murta
não encha de vergonha o céu marajoara
por tua infame mobília, por teus pés descalços, por teu peito sem graça

(...)

cidadezinha filha da ... poxa!
nem quero de ti mal falar
tenho é muita saudade, e revolta

mostra-me o que te abafa nos recônditos
mostra-me os abcessos que te proliferam

(...)

toma teu bolo de aniversário
ri-te de mim que não te canto, torto mandarim
pois no canto fico rezando pela tua morte definida
e para a fênix que chora
pedirei por tuas feridas

cidadezinha, minha minha
ah que te quero querida e bem amada
para os teus filhos também sorrir...
(...)
Jonas Furtado
Enviado por Jonas Furtado em 01/06/2020
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