Homenagem
Escrito por ocasião da aposentadoria
da colega de trabalho, professora Angelina.
Aqui, represento a voz da amiga para homenageá-la.
"Aposentadoria chegando... Não quero saber da marca de sandálias que porei nos pés! Elas pouco sabem dos anos tantos de dura andança - trabalho dedicado e aperfeiçoado a cada etapa vencida - por uma educação melhor.
Não quero saber do adjetivo "inativo"... Porei sandálias novas para novos empenhos. Nada de pendurar as chuteiras (se fosse jogadora de futebol), muito menos guardar os livros (eles ficarão a vista para mais conhecimentos).
Como professora, vivi tempos de angústia... nem vale a pena lembrar; tempo de alegria... que num livro pode se transformar. Ensinei, aprendi; e o louro dessa lida me vem quando um aluno ou ex-aluno me cumprimenta, quer com um "Oi, professora" - ligeiro pelo dia-a-dia -, quer quando me tomam como nome de turma - honraria aceita por apreço e carinho... Eis o que sou para eles, meus alunos.
Aposentadoria!
Ih! Meus colegas... Nem pensar! Talvez um pouco de descanso porque os sujeitos já estão fartos de tanto predicativos que já lhes dei. Mas nossa família Escola mora sempre aqui no coração, pois ela sintetiza numa análise morfosintática as amizades que consquistei. Vou guardar os bons substantivos, próprios ou comuns, simples ou complexos, concretos ou abstratos... eles que se fizeram substância de amor e conteúdo: vida, em minha vida. Já catologuei os adjetivos para melhor usá-los, conforme as transparências amigas... Os numerais, os infinitos pelos sem número de alunos que por mim passaram, porque são hoje multiplicativos da boa fé, porque são cidadãos. Tenho autoridade sobre os verbos, e com eles interagirei sempre com a minha forma de comunicação, mostro estados, qualidades, fenômenos e ações pertinentes. Artigos, pronomes acompanharão e definirão o valor determinado pela pessoa pretérita, presente e futura que sou, ainda que às vezes imperfeita. Preposições, advérbios, conjunções e interjeições atazanarão sempre a minha mente; com eles teço também o fio da meada de minha história.
Aposentadoria!
Usarei mais figuras de linguagem para tornar minha vida e dos que ao meu lado estiverem mais poéticas e vivificadas. As ambiguidades ficam na lembrança das brincadeiras dos colegas de trabalho e amigos, o que talvez me faça falta, e assim, por conta disso, apareça aqui (na escola) para perguntar se alguma professora colega 'já deu...', deu sua aula! Deixem molhar o bico!
Se tenho o que agradecer?!
Deveras! Minha gratidão segue diária aos céus, a Deus, com certeza aceita minha oração.
Bem-aventurança aos meus colegas que ficam na labuta, e a todos. Talvez eu até diga ao Jonas que no fundo no fundo eu gosto do 'tia Angeca'...
E nesse dia de festa, que a permissão me dada para discursar seja condecorada com a felicidade desses alunos que agora tomarão também novos caminhos na certeza de que agora são cidadãos de uma antiga esperança, aquela de um Brasil mais justo e fraterno.
Obrigada."